terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Uma bala no tambor


Lembra daquele dia
Que você me matou
Com bala de festim
Foi tão bom meu amor
Eu gosto assim
Flertar com o abismo
Eu tão cheio de mim
Quero sempre pular
No escuro dos dias
Ser perecível
E tão amável
Ganhar mil flores
Fingir vergonha
Melhor assim
Andar na linha
Onde o trem passa
Porque no fim
Vai passar


Bruno Figueira

Blefe


Roubou no jogo
E me deixou à míngua

Eu sabia que você
Era carta marcada

Mas o tempo todo
      Eu era o curinga        


Bruno Figueira               

terça-feira, 28 de maio de 2013

Saída Emergente


Meus olhos, já esfumaçados, delirados pelo desespero e pânico, procuram uma saída. A luz do fogo me cega. À luz do fogo, vejo-me aspirando a fuligem que ganha o espaço de minhas vias aéreas e se aloja em meus pulmões, já quase desfalecidos pela asfixia total. A consciência e a inconsciência me parecem pendular por uma linha muito tênue_________ castigam e anestesiam o meu corpo, que, àquela altura, já era combustível das chamas. Brigo, instintivamente, ao mesmo tempo em que me paraliso. Em um último momento, fito ||||||||verdadeira ou não||||||||| a luz da saída de emergência, o último falso brilho da vida medíocre que eu tive.


Bruno Figueira

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Porvir



Quando gira,
inspira.
Pensando ele na vida,
Porvir que conspira...


Bruno Figueira

domingo, 19 de agosto de 2012

Soneto mal feito ou Nostalgia


Bons tempos
Que ainda que eu fosse pequeno,
Ocupava todos os espaços.
E o preto dos meus olhos saltados, brilhava.

Bons tempos
Que ainda que tímido,
Meu abraço insinuava.
Que a insônia era eterna e alegre.

Bons tempos
Que ainda que disfarçado,
Escapava-me um sorriso na boca.

E dois.
Quem disse que eu disfarçava?
Bons tempos...


Bruno Figueira


quarta-feira, 28 de março de 2012

Escarrar-se


Pude sentir a saliva acumulada debaixo da língua, oferecendo-me aquele gosto de apatia, que mal me deixava agir ou pensar. Não via as minhas cores no reflexo do espelho. Eu já não me pertencia, já não podia ser. E passei a não ser, segundo após segundo. Sorriam-me os dentes na boca e entupiam-me daquele tanto de não ser nada.

O sol pela manhã revelava o marasmo da minha sombra; sombra de carne, osso e sangue. Sangue que parecia estagnado dentro das minhas veias. Só podia sentir a minha vida, inflamada na boca do meu estômago. E, por vezes, eu quase que a expurgava. Só o não fazia, pois ela já não era minha.

Nas calçadas, caminhavam meus pés como que por instinto, buscando chegar a caminho algum. Se as pessoas passavam por mim, bom dia eu já não dava, apenas exibia -sem querer- a cara que me vestiram. E assim, passava.

As pessoas se entrecruzando faziam míopes os meus olhos, que naquela altura já não conseguiam mais brilhar. O som, urbanado dos carros, invadia – sem alardes - os meus ouvidos; fazendo ecos que eu não podia identificar ao primeiro estímulo. Até o barulho de chuva que fazia o irrigador, e que outrora eu apreciava, causava-me estranhezas. Todos aqueles ruídos se dissipavam no vácuo que eu havia me transformado.

Sentia-me o desentusiasmo minando o ímpeto de tempos passados, que, como uma água corrente, desaguaram-se em nostalgia morta. A verdade é que quando eu achei que me bastava, nem a mim eu tive.  E lá ia eu – com o meu andejado maquinal - atrás dos meus objetivos e fantasmas de vida. Objetivos que se inertiaram em meu ser, que já não o era, e fantasmas que eu alimentava com os meus medos.

Os cacos de minha alma, represados à margem daquele corpo, que já não me pertencia, apontavam-se para despertar. Eram os espasmos de vida, que o mundo obrigava-me a ter: aquelas saídas que não existem, mas que te torturam para tal.

A esperança que tanto mendiguei a mim, e por vezes, fui ignorado, parecia nascer num deserto, como um cacto espinhento, que perfura a sua própria superfície, mal cabendo-se em seu corpo. Como se a alma explodir-se-ia à vida. E como combustão daquela inconsciência, eu escarrei...


Bruno Figueira

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Silêncios


Não era silêncio de constrangimento,
Nem era aquele silêncio de – tudo bem silenciar –
O som de nada daquela noite - era o silêncio da indiferença -
Da pseudo-indiferença encapuzada de indiferença
- Som que já nem sei se serei capaz de ouvir novamente –
Foi assim. Assim que ouvi aquele penúltimo silêncio,
- Torturante -
Daquela noite quente de lua cheia,
[silêncio]
Que prenunciara um último silêncio,
- Arrastado por uma reticência sem respostas –
...


Bruno Figueira